quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Lula diz que, para ser vencido, ‘vagabundos’ terão que trabalhar mais.

SÃO BERNARDO DO CAMPO. Em meio a gritos de guerra como "1,2,3, é Lula outra vez" e "o Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", dirigentes de partidos e entidades de esquerda promoveram nesta quarta-feira um um ato de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado em depoimento recente do publicitário Marcos Valério de ter tido despesas pessoais pagas por meio do valerioduto.
O ato ocorreu durante a posse de Rafael Marques como novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernando do Campo, entidade que foi presidida por Lula anos anos 70 e 80. O evento contou com a participação de dirigentes do PT, do PCdoB, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).
Em discurso de 40 minutos, o ex-presidente não mencionou diretamente a hipótese de disputar um cargo eletivo, mas disse que, depois de ter deixado Dilma construir um governo "com a sua cara e semelhança" e dedicar um ano ao tratamento contra o câncer, voltará à política no próximo ano em uma série de viagens pelo país para "conversar com o povo brasileiro" e defender seu legado, conforme antecipou o GLOBO.
— Só existe uma possibilidade deles me derrotarem: é trabalhar mais do que eu. Mas se ficar um vagabundo em uma sala com ar condicionado falando mal de mim, vai perder — disse o ex-presidente, citando a necessidade de viajar para “ajudar a presidente Dilma” e ganhar mais estados e prefeituras, “para a alegria de muitos e tristeza de poucos”, segundo ele.

Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República (PGR) em setembro do ano passado, Marcos Valério disse ter pago despesas de Lula por meio de uma empresa de seu ex-segurança particular, Fred Godoy. Disse também ter recebido o seu aval para que viabilizasse os empréstimos obtidos pelo PT e empresas de Valério junto ao Banco Rural, considerados forjados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, o empresário ainda não apresentou provas convincentes dos fato trazidos, segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Em Paris, na última semana, Lula declarou laconicamente que as acusações eram mentirosas. Ontem, ele fugiu da imprensa e deu uma breve entrevista apenas para a TV dos sindicatos.
No evento em São Bernardo, o ex-presidente disse acreditar que o seu “sucesso” como presidente do Brasil seria a motivação dos ataques, que atribuiu a adversários.
_ O que mais machuca os meus adversários é o meu sucesso. Eu às vezes compreendo a mágoa deles. Tem gente que olha na minha cara e pensa que eu sou burro, mas eu tenho um pouco de inteligência, consigo compreender o jogo que eles fazem. Desde a época (em) que Cabral botou os pés aqui tivemos advogado, médico, dentista, engenheiro, empresário, fazendeiro, industrial, tudo governando este país. (...) Como podem suportar que este metalúrgico analfabeto dobrou em oito anos o número de estudantes em universidades? — discursou.
O ex-presidente não citou quem seriam os adversários por trás dos ataques a ele, mas disse que, em 2002, teve a impressão de que o então Fernando Henrique Cardoso preferia que ele vencesse as eleições do que o candidato tucano José Serra, por apostar no despreparo do petista para governar. O ex-presidente comparou o fato à ocasião em que foi eleito presidente do sindicato pela primeira vez, época em que “não sabia falar direito”. Segundo ele, dirigentes do sindicato apostavam em seu despreparo para “em três anos voltarem por cima da carne seca”.
_Como eles previam o meu fracasso, eu era o próprio Titanic, mas sem Romeu e Julieta, só eu e o povo. Eles não perceberam a construção que nós fizemos — disse Lula, confundindo o enredo do filme Titanic, de James Cameron, protagonizado pelo casal Rose e Jack, e não Romeu e Julieta.

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