SÃO BERNARDO DO CAMPO. Em meio a gritos de guerra como "1,2,3, é Lula
outra vez" e "o Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo",
dirigentes de partidos e entidades de esquerda promoveram nesta
quarta-feira um um ato de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, acusado em depoimento recente do publicitário Marcos Valério de
ter tido despesas pessoais pagas por meio do valerioduto.
O ato
ocorreu durante a posse de Rafael Marques como novo presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernando do Campo, entidade que foi
presidida por Lula anos anos 70 e 80. O evento contou com a participação
de dirigentes do PT, do PCdoB, da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento dos
Trabalhadores sem Terra (MST).
Em discurso de 40 minutos, o
ex-presidente não mencionou diretamente a hipótese de disputar um cargo
eletivo, mas disse que, depois de ter deixado Dilma construir um governo
"com a sua cara e semelhança" e dedicar um ano ao tratamento contra o
câncer, voltará à política no próximo ano em uma série de viagens pelo
país para "conversar com o povo brasileiro" e defender seu legado,
conforme antecipou o GLOBO.
— Só existe uma possibilidade deles me
derrotarem: é trabalhar mais do que eu. Mas se ficar um vagabundo em
uma sala com ar condicionado falando mal de mim, vai perder — disse o
ex-presidente, citando a necessidade de viajar para “ajudar a presidente
Dilma” e ganhar mais estados e prefeituras, “para a alegria de muitos e
tristeza de poucos”, segundo ele.
Em depoimento prestado à
Procuradoria-Geral da República (PGR) em setembro do ano passado, Marcos
Valério disse ter pago despesas de Lula por meio de uma empresa de seu
ex-segurança particular, Fred Godoy. Disse também ter recebido o seu
aval para que viabilizasse os empréstimos obtidos pelo PT e empresas de
Valério junto ao Banco Rural, considerados forjados pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). No entanto, o empresário ainda não apresentou
provas convincentes dos fato trazidos, segundo o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel. Em Paris, na última semana, Lula declarou
laconicamente que as acusações eram mentirosas. Ontem, ele fugiu da
imprensa e deu uma breve entrevista apenas para a TV dos sindicatos.
No
evento em São Bernardo, o ex-presidente disse acreditar que o seu
“sucesso” como presidente do Brasil seria a motivação dos ataques, que
atribuiu a adversários.
_ O que mais machuca os meus adversários é
o meu sucesso. Eu às vezes compreendo a mágoa deles. Tem gente que olha
na minha cara e pensa que eu sou burro, mas eu tenho um pouco de
inteligência, consigo compreender o jogo que eles fazem. Desde a época
(em) que Cabral botou os pés aqui tivemos advogado, médico, dentista,
engenheiro, empresário, fazendeiro, industrial, tudo governando este
país. (...) Como podem suportar que este metalúrgico analfabeto dobrou
em oito anos o número de estudantes em universidades? — discursou.
O
ex-presidente não citou quem seriam os adversários por trás dos ataques
a ele, mas disse que, em 2002, teve a impressão de que o então Fernando
Henrique Cardoso preferia que ele vencesse as eleições do que o
candidato tucano José Serra, por apostar no despreparo do petista para
governar. O ex-presidente comparou o fato à ocasião em que foi eleito
presidente do sindicato pela primeira vez, época em que “não sabia falar
direito”. Segundo ele, dirigentes do sindicato apostavam em seu
despreparo para “em três anos voltarem por cima da carne seca”.
_Como
eles previam o meu fracasso, eu era o próprio Titanic, mas sem Romeu e
Julieta, só eu e o povo. Eles não perceberam a construção que nós
fizemos — disse Lula, confundindo o enredo do filme Titanic, de James
Cameron, protagonizado pelo casal Rose e Jack, e não Romeu e Julieta.
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